O que têm em comum Homem-Aranha, Hulk, Thor, Homem de Ferro, Demolidor, Surfista Prateado, Nick Fury, os Vingadores, Quarteto Fantástico e os X-Men? Resposta: todos foram criados por Stan Lee.
E não somente isso. Criou os célebres membros das equipes citadas (nos Vingadores: Gigante, Homem-Formiga, Vespa, Gavião Arqueiro, Viúva Negra, Pantera Negra; nos X-Men: Ciclope, Jean Grey, Fera, Anjo, Homem de Gelo, o professor Charles Xavier; no Quarteto Fantástico: Senhor Fantástico, Mulher-Invisível, Coisa, Tocha Humana e seus aliados, como os Inumanos), além dos maravilhosos vilões (Magneto, Dr. Destino, Loki, Galactus, Duende Verde, Dr. Octopus, Homem-Areia, Lagarto, Electro, Barão Zemo, os Mestres do Terror, o Abominável, o Líder). Sem falar nos incontáveis personagens coadjuvantes importantes (Falcão, Sharon Carter, J.J. Jameson, Pepper Potts, Gwen Stacy, Mary Jane Watson, Betty Ross, General Ross, Karen Page, Foggy Nelson, Alicia Masters…).
Não foi pouco.
Aliás, foi quase tudo.
Hoje, 28 de dezembro de 2012, Stan Lee, “o cara” dos quadrinhos, completa 90 anos. E bem vividos! E nada melhor para comemorar do que relembrar a biografia deste que é o mais importante nome da indústria dos quadrinhos em todos os tempos. Segure-se é uma viagem longa e riquíssima pelo universo das HQs.
Infância e adolescência
O jovem Stanley Lieber em sua bicicleta.
O jovem Stanley Lieber em sua bicicleta.
Nascido Stanley Lieber em 28 de dezembro de 1922, filho de imigrantes judeus romenos, o futuro sr. Stan Lee cresceu em Nova York. Seu pai, Jack Lieber trabalhava no ramo da costura de roupas, enquanto a mãe Celia era dona de casa, tendo gerado, ainda, um irmão caçula para ele, Larry, nascido nove anos depois e que teria também grande importância no futuro da Marvel.
Desde muito cedo, o jovem Stanley Lieber demonstrou aptidão para a escrita e leitura. Lia toda a literatura popular da época – que incluía os contos fantásticos de Edgar Rice Boroughs, Edgar Allan Poe, Mark Twain, Arthur Conan Doyle etc.; além da literatura pulpcom sua ficção científica; os quadrinhos publicados nos jornais, particularmente Os Sobrinhos do Capitão; chegando até à literatura mais clássica, com Shakespeare e a Bíblia. Tal dedicação chamou a atenção de seus professores, que não tinham dúvidas de que Stan era um gênio destinado a grandes feitos. Com isso, seus pais passaram a incentivar sua leitura e escrita.
As tirinhas de Os Sobrinhos do Capitão influenciaram bastante a geração de Stan Lee.
As tirinhas de Os Sobrinhos do Capitão influenciaram bastante a geração de Stan Lee.
Apesar de uma primeira infância confortável, devido ao trabalho de Jack, a Crise de 1929 fez o patriarca perder o emprego e nunca mais houve estabilidade financeira na vida do jovem. Assim, bem cedo Stancomeçou a trabalhar, fazendo serviços de meio período e bicos, como entregar sanduíches e jornais e atuar como Lanterninha de cinema à noite. Mas sua habilidade com a escrita também o levou a, ainda adolescente, escrever obituários em um jornal local e criar campanhas publicitárias para o hospital da vizinhança.
Quando tinha 15 anos, o prestigiado jornal Herald Tribune lançou um concurso de redação entre seus jovens leitores. É claro que o jovem Lieber se inscreveu e ganhou. Aliás, como ganhou por três semanas seguidas, recebeu uma carta do editor pedindo que deixasse de participar para dar chance a outros candidatos e que fosse trabalhar como escritor profissional! Contudo, sem poder trabalhar em tempo integral devido à escola, terminou fazendo um curso de dramaturgia, onde atuou como ator, outra pequena adesão às suas habilidades futuras.
Em 1939, Stan se formou no DeWitt High School e foi procurar um emprego em tempo integral, que o levaria à empresa na qual trabalharia a vida toda: a Marvel Comics.
Começo errante
Um Stan Lee bem jovem em começo de carreira.
Um Stan Lee bem jovem em começo de carreira.
Geralmente, se diz que Stan Lee conseguiu seu emprego na Marvel porque era sobrinho do dono da empresa. Isso não é bem verdade. A Marvel foi fundada em 1939 com o nome de Timely Comics pelo editor Martin Goodman, que era casado com uma prima distante do escritor. Foi outro tio dele, Robbie Solomon, quem indicou o talentoso jovem para a empresa e quem o contratou foi o também jovem Editor-Chefe Joe Simon, aquele mesmo que pouco tempo depois criaria o Capitão América junto a Jack Kirby, que era o Diretor de Arte da companhia. Lee só encontraria Goodman depois, apesar dos dois já terem se visto em encontro familiares breves.
Joe Simon e Jack Kirby: a dupla que contratou Stan Lee como assistente.
Joe Simon e Jack Kirby: a dupla que contratou Stan Lee como assistente.
A Timely era uma empresaminúscula e iniciante, funcionando em uma única sala no Edifício Empire State. A gráfica e a distribuição de revistas eram terceirizadas e apenas a redação e um pequeno espaço para escritores e desenhistas ocupavam o escritório. Joe Simon e Jack Kirby comandavam o lado criativo da empresa, que logo no início atingiu o sucesso com dois personagens: oTocha Humana e Namor, o Príncipe Submarino, criados pelos artistasCarl Burgos e Bill Everett, respectivamente. Simon e Kirby supervisionavam tudo. Ao jovem Stanley Lieber, de apenas 17 anos, cabia apenas servir como office-boy e ajudante em geral. Sua grande “promoção” foi apenas ter que apagar o lápis das páginas originais cobertas com a tinta nanquim.
Contudo, era a Era de Ouro dos Quadrinhos e uma revista de sucesso podia até atingir a marca de 1 milhão de cópias vendidas e a Timely/ Marvel estava no páreo. Apesar de não ser uma gigante do ramo como a National – mais tarde conhecida como DC Comics e que já então fazia sucesso com Superman, Batman e outros – a Timely tinha sua cota de sucesso com seus personagens. E tudo mudou no início de 1941 quando Joe Simon e Jack Kirby lançaram oCapitão América.
Capitão América: o grande estouro da Timely.
Capitão América: o grande estouro da Timely.
O Capitão América foi o primeiro personagem da Timely a ser lançado logo em sua própria revista, tão confiantes que Simon e Kirby (e Goodman) estavam de que seria um sucesso. E não estavam enganados: desde o início, as edições deCaptain America Comics disputavam o número 01 das mais vendidas com o Superman e o Batman da DC e o Capitão Marvel (Shazam) da Fawcett Comics. Além disso, na época, a maioria das revistas eram “coletivas” (como são as edições brasileiras ainda hoje), reunindo muitos personagens – casos inclusive deAction Comics e Detective Comics que publicavam outros personagens além de Superman e Batman, respectivamente. Essas revistas tinham cerca de 64 páginas, trazendo seis ou oito histórias, além de seções de cartas e às vezes até contos ilustrados.
Captain America Comics tinha 64 páginas dedicadas apenas ao personagem-título. Assim, logo cedo, Joe Simon e Jack Kirby precisaram de uma equipe de escritores e desenhistas para auxiliá-los na árdua tarefa de manter aquela produtividade mensal. Isso abriu o caminho para o jovem Stanley Lieber ter sua primeira oportunidade: em Captain America Comics 03, de maio de 1941, saiu o primeiro texto de quadrinhos de Stan Lee, com um conto de duas páginas trazendo uma aventura do herói em prosa.
Stan Lee atingiu o sucesso cedo, mas depois amargou uma longa má fase antes da volta por cima.
Stan Lee atingiu o sucesso cedo, mas depois amargou uma longa má fase antes da volta por cima.
Stanley Lieber decidiu assinar como Stan Lee porque queria usar umpseudônimo, afinal, tinha pretensões de ser um “escritor sério” e não queria ver seu nome “manchado” pela produção de histórias em quadrinhos, que não gozavam de prestígio, então. O novo nome se tornou tão forte, contudo, que assim passou a ser conhecido por todos e, no futuro, mudaria seu nome em cartório para o pseudônimo.
Apesar de ser um pequeno conto em prosa, ainda assim, Stan Leecontribuiu para a cronologia inicial do Capitão América ao criar, na história, o movimento no qual o herói lança seu escudo no ar como uma arma que detém o inimigo, ricocheteia e retorna à sua mão. Um movimento de grande beleza plástica que Jack Kirby incorporaria definitivamente ao cânone visual do personagem. Com isso, Stan Lee seria oficialmente admitido na equipe de escritores do Capitão América a partir da edição 06, ainda antes de completar 19 anos.
Stan Lee se tornaria o principal escritor do Capitão América.
Stan Lee se tornaria o principal escritor do Capitão América.
Dois vieses mudariam a vida do jovem escritor. O primeiro foi logo no início de 1942: Joe Simon e Jack Kirby foram demitidos da Timely porque estavam produzindo “clandestinamente” material para outras editoras. (A alegação da dupla era que Goodman não pagava o acordado, então, faziam trabalho de encomenda para fora sem ganhar crédito, contribuindo, por exemplo, para o sucesso do Capitão Marvel da Fawcett). Dessa forma, de uma vez só, a Timely ficou sem os cargos de Editor-Chefe e Diretor de Arte. E quem iria substituí-los? Stan Lee.
Inicialmente, era para ser uma coisa temporária – afinal, ele não tinha sequer 20 anos – mas Lee terminaria no cargo por 30 anos!
Coube a Lee manter o sucesso do Capitão América sem sua dupla criadora e foi bem-sucedido. Ele também criou alguns novos personagens, como Father Time, Black Marvel e o Destroyer, o mais popular dessa primeira leva.
Destroyer foi o primeiro personagem de Lee a fazer sucesso.
Destroyer foi o primeiro personagem de Lee a fazer sucesso.
O outro viés veio em 1943, quando Stan Lee foi convocado pelo exército americano. Contudo, diferente do colega Jack Kirby, Lee não foi enviado aos campos de batalha e ficou nos EUA produzindo cartilhas de treinamento, textos publicitários e roteiros para documentários. De vez em quando, quando tinha tempo, até escrevia uma história ou outra para a editora.
O escritor foi dispensado do exército em 1946, mas o “momento” já tinha passado e o mercado de quadrinhoscomeçou a cair vertiginosamente. Reassumiu os roteiros do Capitão América na tentativa de adaptá-lo aos novos tempos – a guerra havia acabado – mas não deu muito certo. No fim das contas, o personagem foi cancelado em 1949, representando o fim de um ciclo para o autor e para a editora.
Decadência
Os quadrinhos de faroeste da Atlas chegaram a fazer sucesso.
Os quadrinhos de faroeste da Atlas chegaram a fazer sucesso.
Disposta a recuperar mercado, a Timely mudou de nome para Atlas Comics e passou a se dedicar a outros gêneros de quadrinhos:faroeste, ficção científica, policial, terror e romance juvenil. A empresa encolheu e a maioria de seus artistas foi dispensada. Stan Lee ficou praticamente como o único escritor, acumulando ainda as funções de Editor-Chefe e Diretor de Arte. Os desenhistas passaram a ser free-lancers, e alguns bons nomes chegaram em início de carreira, como John Romita e John Buscema, dois nomes importantíssimos à Marvel no futuro.
No início dos anos 1950, Martin Goodman notou um pequeno reinteresse pelos super-heróis, particularmente aos da DC Comics, que vendiam bem com as aventuras do Superman e Batman. Assim, encomendou a Lee uma nova tentativa. Dessa vez, o escritor apenas retomou os dois personagens mais populares de outrora – Capitão América e Tocha Humana – e tentou criar novas histórias dentro do cenário da Guerra Fria, em 1953. A arte do primeiro ficou com John Romita e do segundo com o criador do personagem, Carl Burgos.
O Capitão América dos anos 1950 por John Romita.
O Capitão América dos anos 1950 por John Romita.
Houve alguma resposta e Lee editou revistas-solo dos personagens, mas em 1954, foi lançado o livro A Sedução do Inocente, de Fredric Wertham, que acusava os quadrinhos de serem corruptores de menores e a causa dos maiores males da América. O mercado sofreu umgrande golpe e foi criado o Comics Code Authority (CCA), um conselho de autocensura das editoras que passou a regular a produção das histórias e proibindo uma série de situações, como: sexo, morte e entorpecimento explícitos; situações drásticas, terror excessivo, menções ao sobrenatural etc. Gêneros inteiros, como o terror e policial foram praticamente extintos. E os super-heróis da Atlas também foram pelo ralo.
Os quadrinhos de terror de Lee e Kirby.
Os quadrinhos de terror de Lee e Kirby.
Novamente, Stan Lee se voltou para osuspense, romance, fantasia, faroeste e ficção científica, em uma fase que diz odiar. Ainda assim, a Atlas fez algum sucesso com seus monstros e a aventura “capa e espada” doCavaleiro Negro.
Em 1958, há uma pequena virada na Atlas quando dois artistas passam a colaborar com Lee: Jack Kirby e Steve Ditko. O mesmo Kirby que cocriara o Capitão América vivia uma fase difícil da carreira e aceitou o convite de Lee para desenhar algumas de suas histórias de monstros. Apesar de nunca terem sido grandes amigos e viverem brigando, Lee e Kirby se complementavam no trabalho e seus monstros se tornavam cada vez mais interessantes. A dupla também criou o faroeste Rahwild Kid que passou a fazer algum sucesso.
Ditko colaborava em histórias policiais e de magia e fantasia.
A grande virada: Surge a Marvel
A capa de "Fantastic Four 01", de 1961, por Lee e Kirby: marco zero do Universo Marvel.
A capa de “Fantastic Four 01″, de 1961, por Lee e Kirby: marco zero do Universo Marvel.
Em 1957, a DC Comics dá a largada na Era de Prata dos Quadrinhos ao criar a segunda versão do Flash, herói velocista, que passa a fazer bastante sucesso. Mirando nisso, a editora passou a revitalizar vários de seus velhos personagens, surgindo novas versões doLanterna Verde e do Elektron (Atom), além de repaginadas na Mulher-Maravilha, Gavião Negro e outros. Com o sucesso, reuniram alguns deles na Liga da Justiça, grupo de super-heróis lançado em 1960 e que fez grande sucesso.
De olho na concorrência, Martin Goodmanencomendou uma nova revista de super-heróis para Stan Lee. O escritor, contudo, pensava em se aposentar.
Em 1960, Lee tinha quase 40 anos e achava que não havia realizado nada na vida. Seu seu sonho de ser um “escritor sério” estava cada vez mais distante. Além disso, sentia-se tolhido pelo mercado de quadrinhos, fazendo apenas histórias de encomenda, sem criatividade. O próprio autor sempre creditou a sua mulher a virada da carreira: Joane Lieber teria lhe dito: “faça ao menos uma única vez ‘aquela’ história que quer escrever. O máximo que pode acontecer é Martin lhe demitir, mas você já ia pedir demissão mesmo…”.
Assim, Lee pegou a solicitação de Goodman como se fosse a última coisa de sua vida e se dedicou intensamente a escrever “a” sua obra até então. Com ajuda de Jack Kirby, criou oQuarteto Fantástico, um grupo de heróis bastante diferentes. Uma família!
Além disso, aproveitou para cometer duas ousadias: lançou o novo grupo já em sua revista própria e mudou o nome da editora para Marvel Comics.
O resto é história.
A Era Marvel
O Quarteto era uma grande inovação na época.
Repare na chamada “a maior revista de quadrinhos do mundo”: rei da autopromoção.
Além de criativo, Stan Lee era um craque em autopromoção. Seus editoriais adotavam um tom tão pedante que se tornavam cômicos e isso agradava aos leitores. Com isso, não guardava elogios ao próprio trabalhonas capas: “os heróis mais estranhos de todos”, “a melhor revista de todos os tempos”, “bem-vindos a uma nova era, a Era Marvel”.
Com esse espírito, Fantastic Four 01foi lançada em novembro de 1961 e foi um sucesso instantâneo. Lee sabia o que estava fazendo: sua história ficava no meio termo entre o gênero de aventura e os super-heróis, caso a nova onda destes últimos fosse passageira. Assim, o Quarteto Fantástico não tinha uniformes nem identidades secretas, como mandava o cânone dos super-heróis, além de serem uma família literalmente: um casal (Reed Richards e Susan Storm), o irmão dela (Johnny Storm) e um velho amigo dele (Ben Grimm).
Contudo, essa moldura de “aventura” enquadrava uma história de super-heróis com poderes fantásticos: Reed Richards era o Sr. Fantástico, podendo alongar o próprio corpo como o velho Homem-Borracha dos anos 1940; Sue Storm era a Garota-Invisível, podendo ficar invisível; Ben Grimm virou um monstro horrendo e laranja, superforte chamado apenas (de modo lacônico) de O Coisa; e Johnny Storm se transforma em uma nova versão do Tocha Humana. Este detalhe não foi acidental. Lee queria algum tipo de vínculo com o passado da editora.
Outro ponto importante criado desde o início da nova revista era a noção de continuidade. Continuidade e cronologia eram pontos básicos dos quadrinhos desde os anos 1930, mas Stan Lee os levou à máxima potência. Enquanto as revistas da DC Comics criavam contradições entre uma e outras; na Marvel, a cronologia era levado a sério mesmo. Se um personagem quebrasse o braço numa história, na seguinte, usaria uma tipoia.
Esse recurso continuou na medida em que o Universo Marvel continuou a se expandir e, por incrível que pareça, criou um universo ficcional extremamente coeso. Tanto que a DC já precisou zerar sua cronologia várias vezes, para consertar equívocos, enquanto a Marvel – bem ou mal – mantém a mesma cronologia desde sempre.
Outra inovação foi a comunicação direta com os leitores. Stan Lee mantinha uma coluna nas revistas da Marvel, em que conversava com os leitores e respondia perguntas, inclusive críticas, com muito humor. Foi nesse espaço que criou o seu bordão: Excelsior!
O Hulk foi outro meio termo entre heróis e outros gêneros.
O Hulk foi outro meio termo entre heróis e outros gêneros.
A resposta dos leitores fez Lee (e Kirby) seguirem o mesmo caminho: em março de 1962 chegou a revistaThe Incredible Hulk, que misturava as velhas histórias de monstros com um quê de super-herói, trazendo o cientista Bruce Banner que ao ser colhido por uma explosão de uma bomba gama (que ele mesmo criou) passa a se transformar em um monstro verde superforte e furioso, que destrói tudo em seu caminho, passando a ser perseguido pelo exército na figura do general “thunderbolt” Ross, pai de Betty Ross, a amada do trágico cientista.
Como o mercado parecia se consolidar, Lee foi explicitando os elementos heróicos – o Quarteto passa a usar um uniforme no fim da edição 02 – mas ainda seguiu a norma: o próximo personagem a ganhar destaque foi o poderoso Thor, uma versão heróica do deus do trovão da mitologia nórdica, apresentada emJourney Into Mystery 86, de agosto de 1962. Como Lee era o Editor-Chefe, não tinha muito tempo para escrever, então, apenas delineava as histórias de Thor, que eram escritas por seu irmão caçula, Larry Lieber.
A estreia do Homem-Aranha: curta, eficaz e definitiva .
A estreia do Homem-Aranha: curta, eficaz e definitiva .
No mesmo mês em que Thor estreou, também veio o Homem-Aranha, criado por Lee junto aSteve Ditko em um pequeno conto de oito páginas publicado em Amazing Fantasy 15.
Depois, retomando o intermédio entre heróis e outros gêneros, Lee criou – dessa vez com a ajuda de Lieber, Kirby e Don Heck – oHomem de Ferro, numa trágica história na qual o empresário Tony Stark é obrigado a usar uma armadura para sobreviver a um estilhaço de bomba em seu coração. A primeira história, publicada em Tales of Suspense 39, não é uma aventura de super-herói e tem um final inconcluso, com Stark caminhando sozinho na floresta.
A estreia do Homem de Ferro também não é um conto de super-herói típico..
A estreia do Homem de Ferro também não é um conto de super-herói típico..
Outro que combinou gêneros foi o Dr. Estranho, um mago que combatia forças místicas, mas usava um tipo de uniforme. Outra parceria com Steve Ditko.
sucesso dessas publicações levou ao Homem-Aranha ganhar uma revista própriaAmazing Spider-Man, que estreou em março de 1963. Pouco depois, Lee e Kirby reuniram alguns dos principais personagens da editora então – Thor, Hulk, Homem de Ferro e Homem-Formiga – e os juntou nos Vingadores, um grupo a la Liga da Justiça, que estreou em revista própria, The Avengers 01, em setembro de 1963.
A estreia dos Vingadores, por Stan Lee e Jack Kirby.
A estreia dos Vingadores, por Stan Lee e Jack Kirby.
Em seguida, outro grupo de heróis, mas dentro de um conceito totalmente diferente: os X-Men, heróis que já nasceram com habilidades especiais, ou seja, são mutantes. Cinco adolescentes – Ciclope, Garota Marvel, Fera, Homem de Gelo e Anjo – treinados e comandados pelo Professor Charles Xavierpara combater seu ex-melhor amigo Magneto, um poderoso vilão, que em seguida, reúne aIrmandade de Mutantes, um grupo de vilões.
Os X-Men: um novo tipo de super-heróis.
Os X-Men: um novo tipo de super-heróis.
Por fim, Lee se uniu a Bill Everett – o velho criador do Namor (que por sinal retornou às histórias, como vilão do Quarteto Fantástico) – e criou o Demolidor, um herói que é cego, mas tem os outros sentidos super-ampliados e combate o crime com as mãos.
Os conceitos inovadores de Stan Lee e a arte das revistas transformaram os quadrinhos da Marvel em algo cult entre os intelectuais dos anos 1960.
Os conceitos inovadores de Stan Lee e a arte das revistas transformaram os quadrinhos da Marvel em algo cult entre os intelectuais dos anos 1960. Aqui, o Dr. Estranho com Steve Ditko.
A esta altura, em poucos meses, Stan Lee converteu a Marvel Comics em um sucesso e um diferencial no mercado de quadrinhos. Seus heróis não eram óbvios: nem nos nomes, nem nos poderes e muito menos naspersonalidades. Lee aferia umagrande carga dramática em todas as histórias e enchia seus personagens de falhas. O Coisa tinha um temperamento irascível  o Tocha Humana era cruel com este, zombando de sua aparência; o Sr. Fantástico era frio e arrogante. Uma atitude egoísta do Homem-Aranha leva seu tio a ser assassinado, o que lhe ensina a lição de que “com grandes poderes vêm grandes responsabilidades“. Apenas uma mostra do grau edificante das obras de Lee.
Além disso, Lee também dotava seus personagens de limitações, como maneira de lhes darpontos fracos, coisas que os heróis da concorrência não tinham. Em sua identidade humana,Donald Blake, Thor era manco de uma perna e usava uma bengala. Tony Stark tinha umcoração fraco e poderia morrer a qualquer momento. Peter Parker, o Homem-Aranha, era apenas um adolescente, cheio de inseguranças e falhas, além de sofrer da falta de dinheiro.Matt Murdock, o Demolidor, era cego. Bruce Banner não podia sentir raiva que se transformava no Hulk. O renomado cirurgião Dr. Stephen Strange aprendeu uma lição à sua arrogânciaquando um acidente de automóvel lhe privou dos movimentos parciais das mãos,  o que lhe fez ir ao Oriente em busca de sabedoria e se tornar o Dr. Estranho.
Assim, os personagens de Lee tinham personalidade! E não eram os protótipos perfeitos da raça humana como eram os heróis da DC Comics.
"Avengers 04" de 1964 traz o Capitão América de volta: tacada genial.
“Avengers 04″ de 1964 traz o Capitão América de volta: tacada genial.
Vale ressaltar que o escritor tambémhomenageou o passado da Marvel de várias maneiras. Primeiramente, com a nova versão do Tocha Humana. Em seguida, trouxe Namor, o Príncipe Submarino de volta em Fantastic Four 03, de 1962. Contudo, agora em umnovo contexto: depois de passar décadas sem memória, Namor descobre que a Atlântida foi destruída por um teste nuclear, então, se volta contra “o mundo da superfície”, virando um vilão. Além do Quarteto Fantástico, Namor também enfrentaria os Vingadores, emAvengers 03 e 04, de 1964.
Esta última edição, por fim, trouxe de volta o maior nome do passado da editora: o Capitão América. O personagem foi trazido de volta com toda a pompa que merecia e de umamaneira genial: em Avengers 04, Lee e Jack Kirby (o mesmo que criara o personagem junto a Joe Simon mais de 20 anos antes) contaram a história em que, após uma batalha contra Namor, os Vingadores encontram o Capitão América congelado em um bloco de gelo no Ártico. Assim, o velho Capitão estava de volta tão jovem quanto era nos tempos da II Guerra Mundial. Lee aproveitou a manobra para matar Bucky, o parceiro adolescente do herói, um elemento que o escritor sempre odiou. O próprio herói narra a história de uma armadilha na qual um avião experimental explode matando Bucky e lançando-o ao mar, onde termina congelado.
Capitão América e Sharon Carter combatem a IMA em suas aventuras solo. Por Lee e Kirby.
Capitão América e Sharon Carter combatem a IMA em suas aventuras solo. Por Lee e Kirby.
Assim, tanto Lee quanto Kirby retomavam o personagem e não perderam tempo: figura de proa nos Vingadores, também ganhouaventuras solo na revista Tales of Suspense, dividindo-a com o Homem de Ferro. As aventuras mostravam tanto o herói nos tempos da Guerra quanto no presente, envolvidos em tramas com a SHIELD e seu líder, Nick Fury.
Além disso, o escritor inseriu o Capitão dentro do contextodramático e atormentado dos demais personagens da Marvel, dando ao personagem umaprofundidade que nunca tivera até então. Agora, Steve Rogersera um “homem fora de seu tempo”, perdido num presente décadas afastado de seu passado. O sentimento de deslocamento e estranhamento do “novo mundo” – não esqueçam, eram os anos 1960 – serviram de válvula de escape para muitas das inquietudes de Lee perante as grande mudanças sociais pelas quais os Estados Unidos passavam.
Novos artistas chegam e alguns outros saem
Autoretrato de Steve Ditko nos anos 1960: briga com Stan Lee.
Autoretrato de Steve Ditko nos anos 1960: briga com Stan Lee.
Por volta de 1965, Stan Lee já criara todo o núcleo base do Universo Marvel e a editora era uma potência, cada vez mais próxima da campeã DC. Mas as histórias dele tinham um diferencial: atraiam uma crítica mais intelectualizada e gozava de bastante popularidade nos campi universitários dos EUA e da Europa, por causa de seus conceitos geniais e da arte inovadora de nomes como Jack Kirby, Steve Ditko e Don Heck, os grandes nomes dos primeiros tempos.
A equipe criadora ganhou rapidamente uma segunda leva, porque o crescimento das vendas fez crescer a demanda por histórias e artistas. Assim, John Romitachegou para desenhar o Homem-Aranha e transformá-lo no maior sucesso da casa. John Buscema assumiu os Vingadores, enquanto Gene Colan desenhou o Homem de Ferro, os X-Men e o Demolidor. Marie Severin, uma das poucas mulheres em um mercado masculino, assumiu os desenhos do Hulk.
A grande perda inicial foi Steve Ditko, que abandonou a Marvel em 1966, com relações estremecidas com Lee.
Aqui, cabe um parêntese, pois o caso Steve Ditko rendeu uma grande lição a Stan Lee. Aparentemente, Lee e Ditko discordavam sobre a continuidade das histórias do Homem-Aranha e a identidade secreta do vilão Duende Verde – mantida em segredo para os leitores por dois anos (!) – foi o estopim. Ditko discordava da escolha de Lee: o empresário Norman Osborn, pai de Harry, o melhor amigo de Peter Parker.
John Romita: um dos mais importantes desenhistas da Marvel em todos os tempos.
John Romita: um dos mais importantes desenhistas da Marvel em todos os tempos.
No fim, Ditko saiu da Marvel foi para aCharlton Comics, criar histórias interessantes de Besouro Azul, Capitão Átomo e, principalmente,Questão, personagens que décadas mais tarde seriam adquiridos pela DC Comics e inspirariam a obra Watchmen de Alan Moore. Ditko também trabalharia na DC, em personagens como o Desafiador(Deadman), Rastejante e Rapina e Columba.
A estreia de Romita no Homem-Aranha: bombástica.
A estreia de Romita no Homem-Aranha: bombástica.
Para substituí-lo na arte do Homem-Aranha veio John Romita, que já trabalhara com Lee no Capitão América dos anos 1950 e voltara recentemente à Marvel para desenhar oDemolidor. A dupla Lee e Romita estreou emAmazing Spider-Man 39, de 1966, justamente com uma história querevelava que Norman Osborn era o Duende Verde. Foi um grande sucesso de vendas – era o primeiro vilão a também descobrir a identidade secreta do herói – e virou um marco cronológico e editorial do personagem, porém, nos meses seguintes, Lee teve que aturar toneladas de cartas de leitoresreclamando do novo desenhista.
Curiosamente, apesar de nos dias de hoje o traço de John Romita ser o mais clássico entre todos os artistas que desenharam o Homem-Aranha, na época, de fato, seu estilo era muito diferente do de Steve Ditko e os leitores mais velhos reclamaram muito. Após algum tempo, Romita foi aceito de braços abertos com sua arte bonita e dinâmica, mas Lee aprendeu a lição. Dali em diante cuidaria para que as transições entre artistas fossem mais cuidadosas.
Quando Jack Kirby saiu da revista dos X-Men, seu sucessor foi Werner Roth com uma arte muito semelhante. E quando o próprio John Romita precisou se afastar ocasionalmente do Homem-Aranha, Lee garantiu que seus substitutos, como John Buscema, Jim Mooney e Gil Kane, mantivessem o mesmo estilo. Mais tarde, vendo que Gil Kane era o que mais se adaptou ao personagem, coube a ele suceder realmente Romita quando este se afastou do Homem-Aranha.
Colhendo os Frutos
Stan Lee no estilo "jornalista da velha guarda", em 1965, cede espaço para...
Stan Lee no estilo “jornalista da velha guarda”, em 1965, cede espaço para…
Ao mesmo tempo em que a Marvel aumentava cada vez mais o seu sucesso e começava a ser discutida nas Universidades dos Estados Unidos e da Inglaterra, Stan Lee começou a abdicar de algumas revistas, porque precisava de tempo para atender à demanda pública de sua própria pessoa, além de atuar como “rosto” da Marvel. Assim, numa outra grande jogada, treinou jovens escritores para lhe sucederem em algumas revistas, como Roy Thomas e Dennis O’Neil, dois dos mais poderosos nomes da indústria dos quadrinhos nos próximos anos. O’Neil escreveu histórias do Dr. Estranho, mas terminaria na DC, onde teria um papel muito importante. Thomas, após um início vacilante nos X-Men, conseguiu se consolidar como sucessor oficial de Lee, atingindo bastante sucesso na revista dos Vingadores a partir de 1967.
Outros escritores também produziram material para a Marvel na época. Além de Larry Lieber, o irmão caçula de Lee, também se destacaram nomes como Arnold Drake, que escreveu histórias do Homem de Ferro e dos X-Men e depois criaria os Guardiões da Galáxia. Até Jerry Siegel, o criador do Superman e então demitido da DC Comics, escreveu algumas histórias, assinando como Joe Carter.
... o Stan Lee superstar de 1968.
… o Stan Lee superstar de 1968.
Ao mesmo tempo, a demanda pública de sua pessoa, fez Stan Lee promover uma mudança pessoal. Vaidoso, o artista promoveu uma transfiguração de sua aparência. Não está claro se o escritor fez uma cirurgia de implante capilar ou simplesmente passou a usar uma peruca, mas o calvo Stanley Lieber até então, passou a apresentar uma vasta cabeleira, complementada por uma charmosa barba, que construíram a imagem do Stan Lee superstar.
O sucesso de público e crítica da Marvel o tornou um célebre palestrante ainda na segunda metade dos anos 1960. E grande parte de seu público era de universitários. Isso mostrou que o perfil de leitores dos quadrinhos mudou completamente. Até então, as HQs eram vistas como “coisa de criança”, no máximo de adolescentes. Mas a demanda pelas palavras de Stan Lee mostraram que não, seu público era adulto. E intelectualizado. Portanto, estava realmente interessado no aspecto humano e dramático dos personagens.
Os dramas de Gwen Stacy, Peter Parker e Harry Osborn na arte de John Romita.
Os dramas de Gwen Stacy, Peter Parker e Harry Osborn na arte de John Romita.
Isso deve ter influenciado no fato dele diminuir sua carga de trabalho pós-1965. Dali há dois anos, deixou vários personagens, como X-Men, Vingadores, Nick Fury, Dr. Estranho e outros. Com um menor número de revistas, podia se dedicar com mais afinco aos textos e tramas. Não deve ser coincidência a qualidade ainda melhor de suas histórias a partir do mesmo período, especialmente em Quarteto Fantástico, Homem-Aranha, Thor e Capitão América.
Um dado curioso é que, como Lee era o Editor-Chefe da Marvel, o proprietário Martin Goodmancolocava em prática uma estranha regra: Stan Lee não podia escrever durante o expediente, para que não houvesse um tipo de “conflito de interesses” entre as funções. Assim, só escrevia suas histórias à noite, depois do expediente. Isso lhe dava uma rotina intensa: no horário comercial, atuava como editor, comandando a redação da Marvel (que não parava de crescer); depois, ia para casa dandocarona a John Romita e Jack Kirby, com quem discutia os rumos dos personagens da editora; à noite, passava horas fazendo as tramas das revistas antes de ir dormir e repetir tudo de novo no dia seguinte.
Jack Kirby foi um dos que melhor trabalhou sob o método marvel de Stan Lee.
Jack Kirby foi um dos que melhor trabalhou sob o método marvel de Stan Lee. Aqui, exemplo dos X-Men.
Esse grande volume de trabalho foi o que lhe influenciou a criar o chamado Método Marvel: Lee escrevia, primeiramente, apenas uma sinopse curta (de duas páginas geralmente) sobre a história em questão e passava ao desenhista, que era quem desenvolvia os detalhes da trama, conferia o ritmo e a movimentação; mais tarde, Lee retomava a história, acrescentando os diálogos e sugerindo alterações na arte quando necessário.
Obviamente, esse método exigia ao desenhista ser coautor da história e ser capaz de levar uma boa narrativa sem textos. Muitos desenhistas da “velha guarda” simplesmente não conseguiram trabalhar com Lee por causa disso; em compensação, aqueles que conseguiram se revelaram verdadeiros mestres da chamada arte sequencial  colaborando para levar as HQs a um novo patamar artístico, como Jack Kirby, Steve Ditko, John Romita e John Buscema. Logo, alguns já estavam até se mostrando capaz de contar histórias apenas com desenhos, sem a necessidade da participação de Lee, como é o caso célebre de Jim Steranko e sua arte fabulosa.
O Surfista Prateado na arte de Jack Kirby.
O Surfista Prateado na arte de Jack Kirby.
Um bom exemplo do Método Marvel é a criação doSurfista Prateado. Stan Lee criou uma grande saga para o Quarteto Fantástico no qual o alienígena observador do espaço-tempo conhecido como O Vigia vinha lhes avisar de um perigo iminente à Terra, na figura do poderosíssimo Galactus, ser cósmico que vivia de se alimentar da energia vital de planetas (simples assim). Contudo, quando recebeu as primeiras páginas desenhadas por Jack Kirby percebeu a presença de umestranho personagem, totalmente metálico e que voava em cima de uma prancha. Quando perguntou ao desenhista do que se tratava aquilo, Kirby lhe explicou que – baseado nos contos mitológicos – um ser tão poderoso como Galactus não se manifestaria pessoalmente assim tão fácil, então, era preciso um arauto. Estava criado o Surfista Prateado, que estreou em Fantastic Four 48, de 1966.
O personagem faria grande sucesso entre os leitores e essa mesma tramaria viraria um filme décadas mais tarde, Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado.
Maturidade
Harry Osborn sofre em uma viagem de drogas em um painel "viajante" de Gil Kane. Stan Lee tocando em temas delicados.
Harry Osborn sofre em uma viagem de drogas em um painel “viajante” de Gil Kane. Stan Lee tocando em temas delicados.
É possível notar uma singela diferença nas histórias de Stan Lee entre1966 e 1972, sua fase áurea. Percebendo o apelo de seus personagens aopúblico adulto, o escritor começou a escrever para eles. Assim, suas histórias ficaram cada vez mais complexas e carregadas de questionamentos sociais e filosóficos.
Assim, as revistas do Homem-Aranha ganharam um núcleo afrodescentende na figura do editor de cidades Joe “Robbie” Robertson e seu filho Randy; e Peter Parker estaria na Universidade, cada vez mais envolvido com os problemas dos anos 1960, como a Guerra do Vietnã, o movimento estudantil e as drogas.
Neste último caso, Lee protagonizou uma grande polêmica quando, em Amazing Spider-Man 97, desenhada por Gil Kane, em 1971, contou a história em que Harry Osborn, o melhor amigo de Peter Parker (e também filho de Norman Osborn, o Duende Verde), se envolvia com drogas pesadas. A história foi obviamente censurada pelo Comics Code Authority, mas Lee não cedeu e publicou a revista sem a autorização do selo. A história foi um grande sucesso e terminou contribuindo para o declínio do CCA, que em pouco tempo perderia sua força como castrador das revistas.
O Pantera Negra: primeiro super-herói negro dos quadrinhos.
O Pantera Negra: primeiro super-herói negro dos quadrinhos.
O escritor aumentou consideravelmente a população negra nos quadrinhos, criando o primeiro super-herói negro, o Pantera Negra, em 1966 na revistaFantastic Four 52, com arte de Jack Kirby. Na trama, T’Challa é o rei do fictício país africano de Wakanda, herdeiro de uma linhagem de grandes guerreiros. O Pantera Negra fezsucesso e Lee não queria um papel simplesmente coadjuvante ao personagem, assim, mandou Roy Thomas colocá-lo como líder dos Vingadores em 1968, substituindo o Capitão América.
A estreia do Falcão, em 1969. Mais espaço para os negros nos quadrinhos. Arte de Gene Colan.
A estreia do Falcão, em 1969. Mais espaço para os negros nos quadrinhos. Arte de Gene Colan.
Depois, Lee criaria o primeiro super-herói afrodescendente na figura de Sam Wilson, o Falcão, emCaptain America 117, de 1969, com arte de Gene Colan, que seria parceiro do Capitão América no combate ao crime e passaria a dividir inclusive o título da revista daquele, que passaria a se chamar Captain America & the Falcon durante os anos 1970.
Lee também usou o Surfista Prateado como um veículo para reflexões filosóficas. Dada a popularidade do personagem como coadjuvante na revista do Quarteto Fantástico, decidiu lançar uma revista solo dele. Em 1968, chegava às bancas Silver Surfer 01, com desenhos de John Buscema. Nas tramas, o Surfista olhava para os terráqueos com seu olhar alienígena e ficava se questionando sobre as atitudes humanas. A carga filosófica da revista a tornou uma das preferidas do próprio Lee, além de um grande sucesso entre os universitários de cursos como Filosofia e Ciências Sociais.
A ampliação da Marvel
O Surfista Prateado: reflexões filosóficas de Lee. Arte de John Buscema.
O Surfista Prateado: reflexões filosóficas de Lee. Arte de John Buscema.
Quando Stan Lee começou a criar os seus personagens mais famosos, a Marvel Comics era uma editora minúscula, que editava uma pequena quantidade de revistas. Outrora grande, a editora tinha se desfeito de suadistribuidora e dependia – cruel ironia – da DC Comics para fazer a distribuição de suas revistas. Mas a DC impunha um limite de certo número de publicações mensais. Por isso, grande parte dos títulos da Marvel, nos primeiros anos da década de 1960, eram títulosbimestrais, para poder ter um número maior de revistas em banca.
sucesso de todos aqueles novos super-heróis logo alavancou o papel da Marvel no mercado de HQs e a editora, então, pôde readquirir uma distribuidora e aumentar o número de revistas. Assim, a Marvel viveu uma pequena revolução em 1968, quando mais do que duplicou seu número de revistas publicadas. Até então, apenas alguns personagens tinham revistas próprias, como Homem-Aranha, Vingadores, Quarteto Fantástico, Thor, Demolidor, X-Men. Por isso, algumas revistas traziam aventuras de vários heróis: Tales of Suspense trazia o Capitão América e o Homem de Ferro; Strange Tales trazia o Dr. Estranho e Nick Fury; Tales to Astonish trazia Hulk e Namor.
Tales of suspense se torna Captain America, em 1968: ampliação da linha editorial da Marvel.
Tales of suspense se torna Captain America, em 1968: ampliação da linha editorial da Marvel.
Com a nova distribuidora, as revistas coletivas foram extintas:Tales of Suspense virou Captain America, enquanto Tales to Astonish virou The Incredible Hulk(vol. 02), inclusive, herdando asnumerações; enquanto surgiam as novas The Invencible Iron-Man, Namor the Submariner, Nick Fury Agent of SHIELD; enquanto apareciam outras novas, comoSilver Surfer. Também surgiramnovas revistas coletivas dedicadas a histórias mais variadas e personagens rotativos, comoMarvel Super-Heroes (que traria aventuras do Capitão Marvel e dos Guardiões da Galáxia) e Amazing Adventures (com histórias da Viúva Negra e dos Inumanos).
A Traumática partida de Jack Kirby
Jack Kirby nos anos 1970: mágoas com Lee e a Marvel.
Jack Kirby nos anos 1970: mágoas com Lee e a Marvel.
Jack Kirby era o principal parceiro de Stan Lee. A dupla produziu 102 edições do Quarteto Fantástico, entre 1962 e 1970, além de outras96 de Thor no mesmo período. Sem contar dezenas de outras do Capitão América, dos Vingadores, do Hulk e muitos outros.
Contudo, a relação entre os dois era difícil. Mesmo décadas depois, Kirby continuava a ver Lee como o menino de recados do início da Marvel, não aceitando bem que, agora, ele era seu chefe. Além disso, Lee eraextrovertido e comunicativo, enquanto Kirby erafechado e retraído. Lee atraía atenção para si, gostava disso e se autopromovia. Kirby ficava quieto no seu canto esperando reconhecimento por sua obra. Isso foi aumentando uma grande mágoa no desenhista, que começou a tornar a relação mais atribulada.
Para piorar, após a ampliação da Marvel em 1968, Lee tinha cada vez menos tempo para os altos papos com Kirby, dedicando-se mais à empresa. Assim, Kirby e Lee pararam de conversar, apenas trocando comunicados enquanto faziam uma edição.
Existem poucas fotos de Lee e Kirby juntos. Aqui vemos os dois (esq.) juntamente a outros, como Jerry Siegel (dir.), criador do Superman.
Existem poucas fotos de Lee e Kirby juntos. Aqui vemos os dois (esq.) juntamente a outros, como Jerry Siegel (dir.), criador do Superman.
Kirby reclamava que não ganhou crédito suficientepela criação do Universo Marvel. E os problemas com o lado editorial da empresa começaram a complicar, particularmente quanto à devolução das artes originais, que o desenhista afirmava que não estava mais recebendo. Em sua defesa, Lee afirma que não estava mais no escritório na época e que não sabe o que aconteceu. Também diz que, várias vezes, convidou Kirby para assumir o cargo de Diretor de Arte da Marvel, mas ele sempre recusava, pois ganhava mais como free-lancer.
Superman na arte de Jack Kirby.
Superman na arte de Jack Kirby.
Por fim, Kriby aceitou uma oferta de exclusividade da DC Comics e foi para lá, em 1970, assumindo uma das revistas do Superman e criando, a partir dali, todo o conceito em torno dos Novos Deuses, grupo de personagens que se tornariam essenciais ao Universo DC, especialmente, o vilão Darkseid.
A Marvel perdeu seu principal desenhista e foi um trauma grande. Entretanto, sua saída abriumais espaço para artistas comoJohn Buscema e Neal Adamsmostrarem o seu trabalho. Kirby foi substituído em Thor pelos dois citados; no Quarteto Fantástico por John Romita; no Capitão América, primeiramente por Gene Colan e depois também por John Romita. Lee escrevia todas essas.
Publisher
Stan Lee celebridade no início dos anos 1970: agora, Publisher da Marvel.
Stan Lee celebridade no início dos anos 1970: agora, Publisher da Marvel.
Ao final dos anos 1960, Stan Lee mais uma vez mostra que era um grande editor. Ao perceber que uma nova geração de leitores estava chegando às revistas, notou que era preciso uma nova geração de escritores. Afinal, naquela altura, ele já tinha quase 50 anos de idade e começava a ficar difícil acompanhar os ensejos juvenis. Sem contar nas suas novas atribuições administrativas.
Assim, na medida em que a Marvel crescia e era vendida a um grupo de investidores internacionais, o escritor foi promovido, saindo da função de Editor-Chefe para a de Publisher da Marvel. Ou seja, Stan Lee deixava de comandar a redação em seu dia a dia e passava a se dedicar integralmente à função de “representante” da Marvel Comics para o mundo. Dentre suas novas funções, estava a de mediar novos contratos com licenciadoras. Com isso, Lee se mudou de Nova York para Los Angeles, para ficar mais perto de Hollywood, negociando novos desenhos animados e séries de TV baseadas nos personagens da editora.
Roy Thomas foi o sucessor de Lee, como escritor e como editor.
Roy Thomas foi o sucessor de Lee, como escritor e como editor.
Claro que assumir as funções de Publisher praticamente inviabilizava continuar a escrever as histórias, assim, Lee praticamente encerra sua carreira como escritor regular. A mudança de cargo veio em 1972. Para substituí-lo comoEditor-Chefe, indicou obviamente seu sucessor maior, Roy Thomas. E John Romita foi alçado ao cargo de Diretor de Arte.
Stan Lee ainda treinou outros substitutos para sucederem-no nas histórias. Por exemplo, na revista do Homem-Aranha, enquanto Roy Thomas assumia alguns números, Lee treinou o jovemGerry Conway para ficar em seu lugar. Sob a supervisão atenta do ex-editor, Conway assumiuAmazing Spider-Man em 1972 aos 19 anos de idade, após testá-lo em histórias menores de outros personagens, como o Hulk. Mas o velho escritor podia dormir sossegado: rapidamente, Conway se mostrou como um dos maiores escritores de sua geração, sendo o criador da polêmica história da morte de Gwen Stacy, em1973, por exemplo.
A saída de Lee das revistas, mesmo que gradual, abriu um grande espaço para novos escritores. Assim, 1972 marca o início de uma nova Era na Marvel, com a ascensão de muitos jovens escritores, como Thomas e Conway, além de Len Wein, Gary Friedrich, Steve Englehart, Chris Claremont e Marv Wolfman, nomes que seriam os principais da indústria em pouco tempo.
Captain America 140, de 1971: última edição do supersoldado escrita por Stan Lee.
Captain America 140, de 1971: última edição do supersoldado escrita por Stan Lee.
Claro que o novo Publisher temia que sua saída das revistas tivesse algum tipo de impacto negativo nas vendas, então, planejou seu afastamento com muito cuidado, usando a mesma técnica que aprendera após a má experiência com a saída de Steve Ditko. Então, assim como fizera com Gerry Conway, o próprio Lee, auxiliado pelo novo Editor-Chefe Roy Thomas,supervisionava pessoalmente a produção dos escritores sucessores para garantir o mesmo estilo, embora preservasse a singularidade de cada um.
O próprio Roy Thomas – que já fazia sucesso com as histórias dos Vingadores e tinha lançado Conan, the Barbarian com grande popularidade – assumiu alguns dos principais títulos, como o Quarteto FantásticoThor, ambos em 1972. Outros personagens já haviam sido passados para outros escritores em tempos recentes, como o Homem de Ferro, aos cuidados de Archie Goodwyn desde 1968.
Também em 1968, Lee tinha passado o comando do Hulk para Gary Friedrick, mas a passagem não dera certo, então, retomou os roteiros até 1971, quando os passou também a Roy Thomas, que treinou outro sucessor, de novo Archie Goodwyn. Gary Friedrick também tevesua vez, já que assumiu os roteiros do Capitão América, também em 1971. Neste último caso, o personagem era uma das principais bandeiras da Marvel, por isso, a transição foi cuidadosa. Lee colocou o superconfiável desenhista John Romita para trabalhar ao lado de Friedrick, para assegurar que o supersoldado não deixaria a bola cair. Além disso, fez a passagem no meio de uma aventura, deixando os elementos posicionados para o novo escritor “brincar”.
No entanto, Lee era um grande editor e escolheu muito bem seus sucessores, de modo que todos mantiveram as vendas altas, mesmo com a ausência de seu criador maior. Ao mesmo tempo, Roy Thomas garantiu que todas as revistas da Marvel tivessem, a partir dali, a inscrição“Stan Lee apresenta…”, como uma maneira de manter o nome do escritor nos créditos. A frase permaneceu em todas as revistas até meados dos anos 1990.
Luke Cage e Punho de Ferro: exemlares da expansão da Marvel nos anos 1970.
Luke Cage e Punho de Ferro: exemlares da expansão da Marvel nos anos 1970.
Afastado das histórias, Stan Lee permaneceu dando palestras e representando a Marvel em eventos, além de supervisionar o trabalho de Roy Thomas como Editor-Chefe. Assim, Lee teve papel decisivo em uma segunda ampliação da editora a partir dali, direcionando a criação emnúcleos básicos de personagens. Assim, além do núcleo tradicional dos super-heróis, haveria outros, como aquele dedicado aos personagens cósmicos (Capitão Marvel, Surfista Prateado, Adam Warlock, Guardiões da Galáxia), outro às artes marciais(Punho de Ferro, O Mestre do Kung-Fu), ao universo afrodescendente(Luke Cage), à fantasia (Conan, o Bárbaro, Kull, Shena e outros) e aoterror (dentre outros, com a revistaThe Tomb of Dracula, que fez um sucesso enorme).
Conan: grande sucesso nos anos 1970, com textos de Roy Thomas.
Conan: grande sucesso nos anos 1970, com textos de Roy Thomas.
Os anos 1970 foram em grande parte de reconhecimento da importância de Stan Lee por um lado. Mas por outro, a Marvelfracassou miseravelmentenos licenciamentos de seus personagens, rendendo apenas o sucesso da série de TV do Incrível Hulk, a partir de 1977; ao lado de vários fracassos, como Homem-Aranha, Capitão América e Dr. Estranho.
Ainda assim, fruto do trabalho de Lee, houve vitórias no sentido inverso. A editora negociou o licenciamento de outras criações com muito sucesso, como os quadrinhos de Star Wars, a partir de 1977 e vários outros no futuro breve, como Indiana Jones, Transformers e Comandos em Ação, todos publicados como quadrinhos da Marvel nos anos 1980.
Hulk e Banner por Lou Ferrigno e Bill Bixby: grande sucesso na TV.
Hulk e Banner por Lou Ferrigno e Bill Bixby: grande sucesso na TV.
Em 1978, Stan Lee ainda voltou aos quadrinhos, embora não às revistas. O escritor pôde realizar um velho sonho de criar uma tira de jornal do Homem-Aranha. Trabalhando inicialmente com John Romita, a dupla produziu uma bela coleção de historietas publicadas em centenas de jornais dos EUA (e do mundo) com as aventuras de Peter Parker. Apesar dos super-heróis já não funcionarem como tiras de jornal há muito tempo, em termos gerais, a tira do Homem-Aranha escrita por Stan Lee é publicada ainda até hoje, com mais de 30 anos de produção. Inúmeros desenhistas passaram por ela, comoLarry Lieber, Jim Mooney e Alex Saviuk.
As tirinhas do Homem-Aranha por Lee e Romita: arte em estado puro.
As tirinhas do Homem-Aranha por Lee e Romita: arte em estado puro.
As tiras do Homem-Aranha chegaram até a influenciar as revistas do personagem. Ao decidir casar Peter Parker com Mary Jane Watson nas tiras de jornal, em 1987, Stan Lee terminou criando uma reação do então Editor-Chefe da Marvel, Jim Shooter, que decidiu que o herói tinha que casar primeiro no universo regular. Assim, em certo sentido, Stan Lee é o mentor intelectual do casamento dos dois, que ocorreu mesmo em Amazing Spider-Man Annual 14, de 1987, numa história escrita por Jim Shooter eDavid Michelinie e desenhada por Paul Ryan.
Ainda no fim dos anos 1970, Lee também teve participação direta na criação de uma série depersonagens femininas no Universo Marvel. Era uma manobra comercial para garantir a propriedade intelectual de produtos relacionados aos personagens principais, mas ainda assim, rendeu uma série de criações interessantes, como a Mulher-Aranha, a Mulher-Hulk e a Miss Marvel. Particularmente, foi Lee quem escreveu a primeira história da Mulher-Hulk, publicada em The Savage She-Hulk 01, de 1980, com desenhos de John Buscema.
Aposentadoria e reconhecimento
Montagem de Stan Lee como o Homem de Ferro: ele também está por trás do sucesso da Marvel no cinema.
Montagem de Stan Lee como o Homem de Ferro: ele também está por trás do sucesso da Marvel no cinema.
Após se aposentar do cargo de Publisher, no início dos anos 1990, Stan Lee continuou representandoa Marvel com um cargo de Diretor Honorário. E foi no uso desse cargo que teve um papel protagonista na criação do Marvel Studios e na indicação do executivo Avi Arad para comandá-lo. Sob o apadrinhamento de Lee e as boas relações deste com todo o bussiness hollywoodiano, foi possível à Marvel fazer contratos melhores do que o do passado com os estúdios e dar início a Era Marvel nos cinemas.
Após a boa recepção de Blade, em 1998, (personagem criado na revista do Drácula como um caça-vampiros) que serviu como um tipo de teste, tudo pode começar de verdade com X-Mende Bryan Singer em 2000, que foi um grande sucesso. Este filme mostrou que os quadrinhos podiam funcionar no cinema se levados à sério. Em 2002, veio Homem-Aranha de Sam Raimi, para consolidar de vez o novo momento.
Stan Lee como o carteiro no filme do Quarteto Fantástico.
Stan Lee como o carteiro no filme do Quarteto Fantástico.
A sequência não parou com as continuações dos já citados e novos filmes de Hulk, Demolidor, Quarteto Fantástico, Motoqueiro Fantasma e até Elektra.
Stan Lee atuou como Produtor-Executivo de todos eles, tornando-se, então, uma celebridade ainda maior. E como um tipo de reconhecimento, ganhou pequenas participações em praticamente todos esses filmes.
Stan Lee com o elenco de Os Vingadores: vendo seu universo tomar forma nas telas.
Stan Lee com o elenco de Os Vingadores: vendo seu universo tomar forma nas telas.
O sucesso dos filmes permitiu que o Marvel Studios, agora comandados por Kevin Feige, funcionasse também de modo autônomo, produzindo os seus próprios longametragens, levando a noção de continuidade e cronologiaque Stan Lee criou também para o cinema. Assim, os filmes doHomem de Ferro, Hulk, Thor e Capitão Américacriaram um mesmo universo compartilhado que permitiu a todos esses unirem suas forças em Os Vingadores, o megassucesso de 2012.
Para Lee, foi um sonho ver seu universo ficcional cristalizado nas telas.
E o retorno foi além. Leecontina trabalhandodesenvolvendo uma série de outros novos trabalhos, que envolvem a criação de novos personagens e o desenvolvimento de programas de TVs.
Stan Lee é hoje uma celebridade de Hollywood, tão famoso quanto um diretor de cinema ou um ator. E aos 90 anos de idade, segue trabalhando…
Excelsior!